Relato Expedição São Chico x
Aparecida
5º Dia - 18 de novembro de 2012
Início: Paraibúna-SP
Fim: Aparecida-SP
Distância
total: 105 km
Tempo total: 09:01:49
Pneu furado: 1 Fábio
Pneu estourado: 1 Samuel
Trajeto: Pedal de Paraibúna até Aparecida passando por
Taubaté, Pindamonhangaba e Roseira.
Acordamos às 06:30
mais tranqüilos, pois era o último trecho e a menor distância de todas as
etapas. Tomamos um café acompanhados de um passarinho que bicava um pedaço de
bolo na mesa.
Tudo certo para partir, saímos agasalhados para o pedal,
pois a cidade encontra-se em meio a uma centena de represas, e isto faz com que
a temperatura caia muito durante a noite.
Logo que começamos a subir em direção a rodovia o sol
apareceu e já não era mais preciso o uso das jaquetas.
Depois de 24
km de sobe e desce e muitos trechos em obras, chegamos
ao entroncamento com a Rodovia Carvalho Pinto, que nos levaria até a Via Dutra
em Taubaté e de lá até Aparecida.
A Carvalho Pinto é uma rodovia muito boa de se pedalar em
seu largo acostamento de asfalto liso.
O relevo é irregular e como já estávamos acostumados com
isso, seguimos em um ritmo bom. Cruzamos alguns ciclistas e muitas motos que
rasgavam a estrada em velocidade pouco acima da que pedalávamos.
No início da estrada passamos por alguns romeiros que caminhavam
em direção a Aparecida, e olha que faltavam mais de 70 km até lá. Desejei boa
romaria para alguns e seguimos nossa jornada.
O desgaste das subidas que não passavam de 60 metros de
elevação, acompanhados pelo GPS, eram recompensados pelas descidas com o vento
na fuça.
Em determinado momento acelerei para alcançar um ciclista de
São José dos Campos que treinava para colher informações do que nos esperava
pela frente, como se isso fosse mudar nosso destino. Já não era possível parar,
mudar de rota ou sequer desistir, afinal restavam apenas 60 km e isso era logo
ali.
Depois de um pequeno trecho pedalando ao seu lado ele se
despediu e tomou um acesso à direita para voltar a sua cidade.
Chegando no pedágio, aproveitei para descansar, comer uma
barrinha que já não aguentava mais o mesmo gosto, mas era o que tinha no momento, e tomar água, quente.
Enquanto esperava aproveitei para filmar um grupo de moto
que emparelhou depois das cancelas e fez uma arrancada espetacular.
Em poucos minutos os dois chegaram e sem demoras seguimos em
frente com o Sálvio na dianteira o Samuel e eu, que em menos de um km percebi
que a traseira da bike dançava e constatei que meu Kenda semi slick havia
furado depois de mais de 2000 km rodados.
Tamanha a vontade do Sálvio em cumprir a missão que não
percebeu nossa parada e seguiu de cabeça baixa.
Logo que paramos, tratei de encontrar o responsável pelo
furo e não é que achei. Era um arame com a espessura de um fio dental.
Chegaram a Nadine e a Amanda e acompanharam a troca da
câmera por uma nova.
Seguiram adiante para encontrar o desgarrado e nos
aguardariam em um posto na Dutra onde poderíamos almoçar.
Continuamos a girar os pedais sem muita pressa e antes de
chegar a Taubaté encontramos com o Dada, Zé Hélio e Pelogia, que segundo eles,
as idades somadas ultrapassam os 200. Tamanha disposição e vigor dos três para
pedalar naquele sol explica o bom humor do trio taubateense.
Conversamos sobre São Chico e uma viagem que um deles fez até
Nova Iorque, isso mesmo, Nova Iorque, aquela cidade famosa, no estado do Rio de
Janeiro.
Paramos para trocar e-mails, registrar o encontro e
partimos, não sem antes perguntar se ainda havia alguma subida casca grossa.
“Não, é só a subida de Pinda e depois só plano”.
Pinda é Pindamonhagaba e só plano não é tão plano assim.
Mais uma vez me perguntei por que saber do trajeto pra frente se terei que
passar por ele de qualquer maneira. Acho que é pra ter a ilusão de que será
mais tranquilo, e com isso relaxar, ou ao ouvir que é muito pesado, preparar
meu psicológico para mais um grande desafio, isso é o que nos move.
As placas com indicação de distância, nos lembravam a todo
momento que estávamos próximos do fim de nossa grande aventura e isso trazia um
misto de emoções.
Encontramos mais uma vez as mulheres que nos informaram o
que já suspeitávamos. O Sálvio não vai parar para almoçar.
Tendo a certeza de que o sol afetou seu julgamento,
resolvemos parar em um posto na beira da estrada em Pinda para calibrar os pneus
e almoçar, antes que o prego da fome batesse.
Não havia restaurante no posto e apenas calibramos os pneus,
eu com minhas 45 lbs em cada pneu e o Samuel com suas exageradas 65 lbs em
pneus bem desgastados pelo uso. Na linguagem popular, carecas.
A atendente disse que há 6 km dali havia um restaurante.
Mais uma vez entendemos que as distâncias são, apesar de iguais numeralmente,
muito diferentes fisicamente. Talvez as pessoas digam as distâncias menores do
que realmente são para tentar nos poupar do sofrimento ou por falta de
conhecimento mesmo, mas o fato é que depois que se está com fome, qualquer 100
metros a mais são tortura.
Depois de 11 km aproximadamente chegamos ao restaurante e o
porteiro gentilmente se prontificou a cuidar das magrelas enquanto devorávamos um
comercial com bife.
Com o lastro cheio era hora de enfrentar o último trecho da
nossa divertida viagem.
Com o sol da 1 da tarde elevando a temperatura do asfalto o
suficiente para fritar um ovo e comprometer meu raciocínio, pois quando o Samuel
falou que em seu pneu dianteiro havia um caroço, não lembrei que deveria
diminuir a pressão.
Cruzamos um senhora a cerca de 10 km de Aparecida caminhando
sozinha em sua romaria. Devia ter idade avançada facilmente denunciada pelos
passos lentos apoiados em um cajado. No rosto encoberto pelo lenço, a aparência
cansada e o olhar persistente me renovaram as forças e me ajudaram muito nos
últimos quilômetros.
6 km para chegar e a euforia deu lugar a apreensão quando
ouvi o barulho característico de um pneu dianteiro com caroço estourando. Sim o
pneu do Samuel com sua exagerada calibragem já era. No buraco resultante era
possível atravessar o dedo indicador.
Sem qualquer chance de reparo, o que me veio a cabeça foi a
imagem da senhora que há pouco havíamos cruzado, e de pronto falei pro Samuel.
Vamos concluir a Expedição empurrando as bikes.
E assim foi até atravessarmos o viaduto que dá acesso ao
Pórtico de Aparecida onde tiramos muitas fotos para registrar o fim de uma
grande viagem, onde conhecemos muita gente e um pouco mais de cada um de nós.
Ainda foi possível conhecer o Eduardo Kenji, o Japa, mineiro
que com um grupo de amigos realizou o Caminho da Fé, circuito de cicloturismo e
pedestrianismo que conta com pontos de passagem e é realizado de acordo com a
disponibilidade do viajante. (www.caminhodafe.com.br)
Comprei algumas lembranças, visitei a igreja, agradeci e
agora é hora de arrumar as bikes no carro e voltar que segunda tenho que
trabalhar.
Espero que tenham
gostado dos relatos e das fotos e não percam em breve:
Expedição São Chico x Montevidéu
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