quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Relato do 1º da Expedição São Chico x Aparecida


1º Dia – 14 de novembro de 2012

Início: Museu Nacional do Mar – São Francisco do Sul-SC
Fim: Comunidade do Marujá – Ilha do Cardoso-SP
Distância por terra: 150 Km  Distância por água: 36 Km  Distância total: 186 Km
Tempo total: 14:16:11
Tombos: 3 do Sálvio e 1 do Samuel

Trajeto: Travessia de barco para a Vila da Glória; Pedal para Guaratuba-PR passando por Itapoá-SC; Travessia de balsa de Guaratuba-PR para Matinhos-PR; Pedal até Paranaguá-PR passando por Pontal do Paraná-PR; Travessia de barco para a Ilha do Superagui-PR; Pedal até a Barra do Ararapira divisa de Paraná e São Paulo; Travessia de barco para a Ilha do Cardoso-SP; Pedal até a comunidade do Marujá na Ilha do Cardoso-SP

Tal qual criança em véspera de aniversário, minha noite foi recortada de cochilos e antes mesmo que o despertador berrasse às 05:45, já estava de pé para iniciar a tão esperada jornada de São Chico a Aparecida.

Enquanto aguardávamos o mentor da viagem (Sálvio), eu e o Samuel arrumávamos as bagagens nos alforges e cuidávamos dos últimos detalhes.

Tudo certo, tudo pronto, ainda deu tempo de derrubar duas cuias de chimarrão com a minha vizinha Celi, uma olhada no Miguel e um beijo no Gustavo e na Cíntia.

O céu estava nublado vez em quando caiam uns chuviscos e não me animava a idéia de pedalar com chuva.

Percebi que o Samuel estava com peso excessivo quando colocamos a bike na caçamba da caminhonete do Sálvio, pois foi preciso dois para levantá-la. O peso da barraca que não usamos mais tarde foi um transtorno em uma serra, mas isso eu conto depois.

Como era de se esperar o Sálvio atrasou 20 minutos, mas tínhamos tempo até chegar no Museu do Mar onde embarcamos na lancha que nos deixou do outro lado da Baía da Babitonga, não sem antes tirar muitas fotos e filmar a despedida da cidade. A Nadine, esposa do Sálvio, compareceu e nos desejou boa sorte.

No embarque, um conhecido do Sálvio nos disse “Vocês são loucos”. Comentários relacionados com nossa sanidade mental como a deste sujeito foram ouvidos muitas vezes antes, durante e serão ouvidos também depois da viagem.

Estava ansioso para começar a pedalar  pois sabia que tínhamos pela frente 815 Km e cinco dias, mas não 
queria pensar no todo e sim de pouco em pouco, de 25 em 25 km que foi como separei o trajeto.

A travessia foi rápida e em cerca de 30 minutos estávamos desembarcando no trapiche da Vila da Glória.

Seguimos pela estrada em direção a Itapoá e já começamos a sentir o efeito da chuva que caíra sem trégua nos dias anteriores, deixando a areia muito pegajosa. Agora não dá mais pra voltar, e o jeito foi seguir em frente.


Saímos da estrada de terra e entramos na nova rodovia que chega ao Porto de Itapoá, com um bom acostamento e pouco trânsito.

O GPS deu alerta de bateria fraca, comprei 08 recarregáveis da Sony 6000 MaH no Mercado Livre, dei carga total e as malditas duraram apenas 02 horas, sinto que fui enganado.

Chegando ao Porto de Itapoá, uma cena nos chamou a atenção, um cavalo branco nos acompanhou galopando cerca de uns 300 metros por dentro do cercado como se quisesse seguir junto na viagem.Claro que filmei né.

O chuvisqueiro que começou a cair, durou cerca de 5 minutos e nem sequer molhou de verdade.

Mais uma vez baterias fracas. Mas dei carga total. O Samuel prevendo outra parada em breve me emprestou duas pilhas dele que duraram mais de 20 horas de uso. Vou comprar destas.

Chegando em Itapema do Norte fizemos uma pausa para o café.

Retomamos a estrada e logo adentramos no Paraná, mas não há nenhuma placa identificando a divisa dos estados. Não fosse o GPS (viu Patrícia Barcellos) não saberíamos. Pausa para a foto na ponte sobre o Rio Saiguaçú e volta ao pedal.

Chegamos em Guaratuba e na travessia para Matinhos conhecemos um caminhoneiro que mora em São Chico e por minha falha não anotei o nome, que faz todos os dias o trajeto São Chico x Paranaguá.

Já em Matinhos aconteceu o primeiro e único acidente. O Sálvio ao passar por uma família, não percebeu que uma moça mal intencionada queria derrubá-lo e ao se aproximar foi golpeado pela barriga da moça e rolou pelo acostamento junto com a moça. Nada além de arranhões e um baita susto. Recomendações de cuidado daqui, desculpas de lá, continuamos em frente.


Passei por um andarilho que carregava em seu carrinho uma bandeirinha do Brasil e lembrei que tinha que comprar uma para levar para a próxima viagem. Mal sabia eu que o Samuel iria parar, pedir, e ganhar a bandeira, dizendo que estavamos indo para a Argentina. Ouviu do bondoso homem: Representa bem nós lá hein.

Pelos meus cálculos daria tempo pra chegar em Paranaguá antes das 14:30, horário da saída do barco para a Ilha do Superagui, porém a medida em que avançávamos os pedais os ponteiros do relógio avançavam mais depressa e minha cabeça agora era uma calculadora desenfreada fazendo mil cálculos por segundo para ter certeza que não perderíamos o Megatron.

Como malucos, aumentamos o ritmo do pedal dos 23 para 31 km/h e durante quase 25 km andamos assim, com o medo de perder o barco.

O roteiro que tracei passou pela periferia de Paranaguá e encurtou um bom caminho, mas não foi o suficiente e quando o relógio bateu às 14:30 estávamos distantes ainda uns 8 km do centro de onde saem os barcos.

Com a sensação de desânimo aliviamos o rodar dos pedais e minha cabeça tentava encontrar outra saída para não comprometer a viagem. A única que apareceu foi seguir até o local e pagar outro barco com valor bem maior para nos levar.

Chegamos às 14:57 ao trapiche e com sensação de “vai que tenha atrasado” perguntei de onde saia o barco para o Superagui e um barqueiro respondeu: - É ali em frente naquele píer lá, ta lá o barco ainda, o Megatron.

Não estava perdido, o barco do César parece que nos aguardava, pois foi só arrumas as bikes em cima do barco para ele partir.


Sem almoço, o Sálvio e o Samuel comeram uvas e bananas e eu depois de pechinchar comprei duas laranjas por R$ 0,50 de um senhor que tem comércio no Superagui e estava levando as compras para revendê-las no feriadão.

 A viagem durou cerca de 02:20 e pudemos avistar  ao longe o rádio farol e a fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres na Ilha do Mel, além da Ilha das Peças, que na próxima vez entrará no roteiro.

Durante a travessia, conversamos muito com o César, dono do Megatron, sua esposa Selma e seu sobrinho Jailson. O Samuel jamais havia navegado no mar e foi uma grande estréia.

Navegamos em águas tranqüilas até que chegamos em mar aberto, onde as ondas começaram a ficar maiores fazendo com que o barco balançasse bastante,  acordando o Sálvio de seu cochilo.

Na cabine de comando aprendemos sobre mar rasgado, navegar a meia nau, de través entre outros termos.

Contamos do nosso plano de chegar ao Maruja no mesmo dia e o César achou melhor que ficássemos em sua pousada para partir no dia seguinte, porém já tínhamos reservada a pousada e poderíamos perder o barco para Cananéia.

O César então nos convidou para um café e tentou contato via rádio com a Raquel, sua filha, para ir preparando o lanche, porém a ilha estava sem energia, e só soubemos ao desembarcar.

O barco vinha carregado de mercadorias dos moradores que ao ouvirem as buzinadas já aguardavam no píer para a descarga. Entre eles estava a Raquel.

Na casa do casal, tomamos um ótimo café com pão e um maravilhoso doce de banana feito pela mãe do César.

Energia reestabelecida, conseguimos contato via rádio com a Vila do Ararapira onde um barqueiro nos aguardaria para a travessia para a Ilha do Cardoso, já no litoral de São Paulo.


Nos despedimos e seguimos pela fantástica trilha que leva da vila até a praia em um trecho de aproximadamente 3,5 km em meio a mata preservada passando por pequenas pontes improvisadas nos córregos que cortam a trilha. Claro que filmei.


Chegando na beira da praia, 20 km de pedal até chegar na Barra do Ararapira, onde o barqueiro Admilson nos aguardava. Não fosse o farol do Samuel, estaríamos em uma roubada, pois o Admilson já estava se aprontando para ir embora, visto que a noite caía e a navegação até a Vila do Ararapira é perigosa segundo ele. Eram 19:43.

Bikes embarcadas, iniciamos a travessia para ??? Perguntei se ele poderia nos deixar na Comunidade do Maruja, distante 15 km rio acima e com a sua negativa, descobrimos que teríamos um pedal noturno forçado.

Desembarcamos  na Ilha do Cardoso-SP e talvez pela espera do Admilson, nem demoramos pra chegar, nos cobrou R$ 15,00 por pessoa pela travessia. (o praticado é R$ 5,00). Era o terceiro estado pedalado em um só dia.

Segundo o Admilson, para chegar na comunidade, era só seguir pela beira da praia até um sobrado a beira mar todo iluminado que se enxergava de longe. Ok Admílson, um dia eu volto.

Noite adentro e nem sequer uma lamparina ao longe. Guiados ora  pelo som do mar, ora pelas pegadas de um PNI (pássaro não identificado) pedalamos na beira mar por um trecho bem maior do que o desejado, talvez pela fome, pelo desejo de um banho, ou de simplesmente chegar.

Mais uma vez o GPS nos salvou, ao apontar a entrada  da trilha para a comunidade, que rapidamente nos levou até a Pousada da Débora, já passava das 21:20.

Fechamos a hospedagem, é hora de encher a barriga, já que não almoçamos e não podia mais ver barrinha de cereal na minha frente. Antes fui verificar com o André a travessia para Cananéia na manhã seguinte. 
Acertamos o preço de R$ 50,00 por pessoa para a viagem de 01:00 em sua voadeira, partindo às 07:00 hs. 

Agora sim podemos nos fartar com um belo PF no restaurante da Valdete.

Voltei sozinho para a pousada para me adiantar no banho e me perdi no caminho, logo me reencontrando. Os dois também se perderam no retorno. 

A comunidade é movida por geradores que são desligados e os ventiladores e luzes de emergência funcionam com baterias. O banho com aquecedor a gás foi restaurador e antes da meia noite os 3 dormiam. 

Combinado o horário do despertar para às 06:00, Boa noite.

2 comentários:

  1. Ótimo relato do nosso 1ºdia de passeio Fábio.

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  2. Belo relato camaradas. Nós bikers somos tudo meio doido mesmo.....foi o que ouvi domingo, fiz um roteiro(https://www.facebook.com/media/set/?set=a.3978776625733.2140936.1170168960&type=1&l=4ef43a8806) pelo litoral, dando 151.01km, o problema é que foi solo. Aguardo o próximo relato. Quanto as pilhas, compra da Elgin, tb aprendi da pior maneira possível que as da sony me deixam na mão, tenho várias da Elgin, que a carga vai longe. Parabéns pela aventura.

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